domingo, 19 de dezembro de 2021

A educação bancária, segundo Paulo Freire

A função do banco é receber, transferir, acumular, depositar... A educação, em seu cerne, envolve passar adiante os conhecimentos adquiridos pelos docentes. Porém, seria de muita ingenuidade conceber esse canal de comunicação sem incluir o contexto do qual ele é impregnado, a começar pela própria formulação do currículo, quiçá nas metodologias utilizadas em sala de aula - não raro, tradicionais, centradas em reter, memorizar, de forma repetitiva e vertical, informações.

Diante disso, quão alienado e alienante é o processo de ensino e aprendizagem apoiado numa educação bancária, que, segundo Paulo Freire, projeta o educando como um recipiente vazio, passivo, suscetível a ser preenchido com o conhecimento que o educador detém? 

Nessa dinâmica, não há questionamentos, conscientizações, tampouco o estímulo para que o aluno assuma uma postura crítica de investigar, relacionar o que é aprendido com o é vivenciado, concretamente. É, portanto, um caminho unilateral, entre o aluno, o oprimido, e o professor, o opressor, onde o fim é dirigido segundo o critério do segundo. 

O professor, por sua vez, também está sujeito a uma estrutura de poder vigente. A obediência cega a um currículo orientado e construído politicamente é uma armadilha para realizar os fins ocultados nos meios, seja durante a Ditadura Civil e Militar, em 1964, seja em posturas recentes que desvinculam a educação da liberdade, da autonomia e da emancipação de todos os indivíduos, sobretudo dos educandos.
Posto isso, a criticidade acompanha a postura ativa de buscar respostas através dos questionamentos a partir de diálogos que extrapolam as paredes das escolas, os livros didáticos e os currículos pré-estabelecidos... Ao melhor buscar compreender a realidade que atravessa as relações entre docentes e educandos, maior a possibilidade de transformar meros conteúdos bancários em saberes práticos para a vida pessoal e coletiva, de forma significativa, sensível e realizadora.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Meu olhar sobre a Baixada Fluminense

Baixada Fluminense... "baixada"... baixo em relação ao quê? Por que ser carioca, ainda mais da gema, sempre foi mais atrativo, ainda que não ficasse muito claro os motivos? Por que as letras de música, até mesmo as de rap e funk, falam de um Rio de Janeiro que nunca vivi? 
Aí noto a diferença do suburbano para o periférico. Sub-urbano ainda é urbano, não? Meio abaixo dos parâmetros enaltecidos, mas ainda tá lá. E o periférico? Tá longe do centro? Mas qual é o centro? 
Me peguei a vida toda nessas nuances entre um e o outro, usando as perspectivas outras, que não poderiam ser através do meu olhar, porque são de pessoas que ainda que fossem da Baixada, não são de uma única Baixada. 
Percebo traços do urbano, sim... Quem não curtiu os shows do Charlie Brown Jr., NX Zero, Nosso Sentimento nos antigos aniversários de comemoração da emancipação de Queimados de Nova Iguaçu? Digno de line-up do Rock In Rio. Quando construíram um centro comercial com praça de alimentação e faculdade, foi um marco.
Mas tem muito do rural... Até poucos anos tinha um ponto pras charretes que levavam o pessoal do Centro até o posto lá pra dentro do Roncador. A feira de domingo então, entretenimento de comer um chouriço ouvindo forró a ganhar uns trocados catando caranguejo em mangue pra vender vivo, fresco.
O meu olhar da Baixada Fluminense, sendo fluminense, é construído através que vivencio nela, através dos sentidos, das falas, do cotidiano construído dia após dia, seja com experiências boas ou ruins. 
Existe um termo chamado Topofilia que se refere ao sentimento de pertencimento, afetividade, identidade com um lugar. Topofobia é quando esse sentimento é adverso, de medo, aversão. Na primeira aula do minicurso "Comunicação Digital na Baixada Fluminense", foi mencionado pelo Wesley Brasil a seguinte frase: "O lance é que tu só ama o que tu conhece". E acho que o amor, longe de ser só referente ao belo, ao bom, está para além do bem e do mal... Está em amar as qualidades e os defeitos. E não desejar ser uma coisa que não se é. Sendo assim, se enxergar mais no fluminense do que no carioca.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Com a licença das palavras, Conceição Evaristo

Escrevivência não é sobre contar as experiências somente
Mas o que fazer com lhe acontece
Ao passo que narrar a realidade
Ainda que sob aval da ficção
Pressupõe a subjetividade do próprio autor 
A partir do seu olhar sensível ao mundo
Onde está a dualidade 
Entre o que é real e o que é inventado, portanto? 
Só escreve ficção quem conhece a realidade

 Desejo que lembrem de quem eu sou quando não tenho utilidade Quando não tenho nada a oferecer