Com amor, Van Gogh

Entre a pobreza e a "loucura" (sem tom pejorativo), a fama que veio depois da morte, sem nunca ter vendido um quadro em vida, trazendo o impressionismo como apreensão sensorial da beleza, da angústia, da emergência que é sentir essa vida. 

A maior loucura do Van Gogh... cortar a orelha, ter ele mesmo ido para um sanatório, as aventuras afora pela vida boêmia não glamourizada (seus contemporâneos tinham vidas tão miseráveis e decadentes quanto)... talvez, talvez nem chegasse perto da real loucura que seria viver que não fosse da Arte

Raízes de uma árvore com galhos a serem podados

Minha bisavó, talvez assim como a sua mãe, sofreu na vida, no interior, com muitos filhos e muita fome, viúva.

Minha avó veio pro RJ, já com alguns filhos, e também sofreu até ter uma casa confortável e um esposo que não a maltratasse tanto.

Suas 2 filhas mulheres, minha tia e minha mãe, até tentaram resignificar esse ciclo de dor, ainda que também sofressem. 

Minha tia teve mais sucesso. Meu primo já é pai, formou sua própria família, é aparentemente feliz, mental e fisicamente saudável...

Minha mãe é o lado mais dramático e catastrófico. E junto com algumas coisas positivas, no meio herdei a tendência de ser impulsiva e me isolar em situações de conflito, assim como a dificuldade de me sentir amada, porque muitas foram as vezes que me senti abandonada, inclusive por ela.

Do meu lado, ainda não consegui quebrar esse ciclo de sofrimento, mas tenho consciência dele, verbalizo sobre ele. E me agarro quase como uma religião a minha oportunidade de fazer diferente e de começar uma história de afeto, acolhimento, segurança e confiança 

A pobreza é concreta

Milton Santos, em uma entrevista de 97 no Roda Viva, sofrendo a provocação de um jornalista sobre a abstração da pobreza e pela generalização da sabedoria do pobre, responde, enfático: "o pobre é sempre sábio, porque ele conhece a experiência da escassez". 

Numa sociedade excludente, se cria formas de se inserir, é um constante fazer criativo, não por opção, mas por necessidade,  por sobrevivência.

A ideia de Milton de solidariedade orgânica só reforça essa força, essa sabedoria, porque nessa mesma sociedade desigual e combinada, todos somos interdependentes. Mais uma vez, não por opção, mas por necessidade. Um trecho da música do Criolo ilustra isso:

"Hoje eu vou comer pão murcho/Padeiro não foi trabalhar/A cidade tá toda travada/É greve de busão tô de papo pro ar"

Se a força braçal do pequeno produtor pára, por exemplo, tudo pára. Tá tudo interligado nesse grande sistema que é o espaço geográfico. 

Depois que tu descobre a paz da sua própria companhia

Você se liberta do medo em estar só

Existirão os segundos que anteciparão momentos eternos (leia-se até onde a vida terrena durar)

O momento que você está desejando ardentemente, e está se contendo Deus sabe-se lá como 

E o momento que você sente que está sendo desejada,  e está ansiando pelo o que está por vir 

Nos desejamos no intervalo de diferença de uma longa conversa

Você, assim que me viu sorrir ao te ver chegar 

Eu, quando você riu comigo depois de ter me sentido idiota contando uma piada

E só confirmamos: "ali, ali eu senti"

Não foi nem necessário ter dito o que 

Sabíamos. Ponto

E mais tarde, naquela mesma noite

Que já virara madrugada 

Quase sem me sustentar em pé de um dia longo de trabalho

Embora você também

Frente um para o outro 

Com a minha cabeça encostada no seu peito 

Eu senti 

Cada pulsação frenética diretamente do contato físico com seu coração 

Eu sabia 

E nem precisei abrir os olhos

Por um período de tempo que agora está marcado no meu "pra sempre"

Passei a odiar me masturbar 

Porque é um tesão que me deixa triste 

Lateja

Reclama 

Clama pelo seu tesão também 

E sei que isso não vai acontecer

E pra não doer

Silencio minha sexualidade feroz 

Tento amansar a fera

Pra que não roa ossos 

De cadáveres, de corpos vazios

Mas isso uma hora vai acontecer

E será mais um começo de um novo fim

De procurar em outros corpos encontrar você 

Até esquecer de como foi o seu corpo dentro de mim 

Iniciar um novo ciclo

É se jogar no desconhecido 

Optar por fazer isso sozinha

É o ato mais corajoso possível 

Porque você não tem aonde 

Ou a quem 

Se agarrar 

Mas a firmeza advem do seu propósito

Tão valioso pra si 

Que mesmo que você vivencie dores emocionais 

Ou até mesmo físicas 

Valerá à pena nunca ter desistido

13 anos depois

Seu beijo ainda me dá frio na barriga 

Igual aquela primeira vez, debaixo do poste 

Na véspera de Ano Novo

Escondidos

A madrugada toda foi revivendo aquele beijo 

Que por anos continuei relembrando 

E descrevendo 

E reescrevendo 

Pra fixar em minha lembrança

Como estou fazendo agora 

Eu, acumuladora de casos descompromissados 

Você, colecionador de momentos matrimoniais 

Eu ganhei alunos 

E você concebeu uma filha 

Tive 3 outros exs

E você, uma esposa 

Pra que você foi sentar do meu lado no ônibus?

Fizesse como eu, deixasse quieto 

Você assistindo anime no celular 

Eu lendo um livro, uma anotação 

Mas não 

Você precisou me mostrar que tinha se tornado ainda mais gentil, engraçado, destemido... e responsável 

Você precisou dizer que sou especial, e que sempre me desejou e sempre me desejará 

Precisou me levar pra lanchar, conversar por horas na minha calçada, no celular, na praça depois da saída dos nossos trabalhos

Precisou me levar pra casa, já tarde da noite, ultrapassar a porta, levantar a minha cabeça e me beijar 

Precisou insistir só mais um pouquinho, pra antes que a realidade cortasse igual faca, te convidasse a vir na minha casa, durante a madrugada, e quase rasgar o meu vestido de tanto ansear

Você poderia ter sido o primeiro 

O que amei, o que me sentiu, o que eu permiti ficar 

Mas antes que a memória de nós dois na cama, gargalhando de alguma das tantas piadas,  pudesse perder o frescor 

Lá estava você como ex marido e pai 

E eu como a descrente traumatizada perfomantizando frieza 

2, 3 semanas daquela intensa paixão de adolescência 

Se desfez antes mesmo que eu pudesse tomar a pílula D pra não engravidar  

Porque não somos os mesmos de 13 anos atrás 

E as circunstâncias da vida nos levaram pra destinos diferentes 

Essa só foi uma parada

E a viagem continua 

Da próxima vez, me deixa quieta no banco

Não vou reescrever mais o momento para tentar revivê-lo 

Vou acostumar a não ansiar 

Ainda que sinta a sua falta

Como senti todos esses anos 

Mas uma das coisas que

Triste, mas necessariamente

Ser adulta me fez 

Foi acalentar desejos de viver o que meu coração deseja 

Para viver o que a minha mente precisa:

Paz