Desejo que lembrem de quem eu sou quando não tenho utilidade
Quando não tenho nada a oferecer
E nem por isso, deixei de brigar.
Os nervos aflorados, palavras que mais parecem tapas, socos e pontapés.
E nem assim, seja eu a que começava ou a que revidava
Nem assim
Parei de brigar.
Pela necessidade de defesa, usando de justificativa o ataque...
Sempre saía perdendo.
Se ainda fosse físico... sarava.
Mas a verdade é que toda briga deixou marca
Que talvez eu não merecesse o bem que me fizeram
De que aquele ali não era o meu lugar
E, pior, de que eu nunca fosse ser amada
A começar por eles
Justamente aqueles que rotineiramente brigava.
E cresci temendo brigas, evitandos brigas
E ao passo que crescia, percebi que de duas, uma:
Ou defendia o que acreditava, certo ou não
- A questão era mais me posicionar, por identificação com um pensamento ou sentimento
Ou me calava, me corroendo em raiva ou tristeza por dentro.
Os dois eram nocivos.
Escolher entre cuspir nos outros ou engolir o veneno.
Mas o pior das brigas sempre foi aquela sensação de chegar ao limite...
Que ironicamente, pra mim, sempre foi voltar do zero.
Seja com 13, 16 ou 23.
Em todo o conflito declarado, parecia que perdia.
Em tudo.
E me encontrava sozinha no mundo
Sem fazer ideia de como começar.
E é por isso que minhas crises vieram...
Porque elas trazem algo que tento maquiar com reafirmações de mérito, de auto-exigência nos mínimos afazeres e numa quase prontidão univeral...
Que não faço falta
Que sou descartável
Que sou difícil de amar
Uma mãe superprotetora zela pela sua cria, a priva dos malefícios do mundo
Mas assim como o bem, o mal ensina
Essa redoma acaba por trazer uma falsa sensação de segurança e proteção, mas é cômoda...
Deve seguir como uma boa menina, distribuindo "sim". "Sim"? "Sim!"
Pois a submissão é muito atrativa - principalmente quando se tira vantagem de tamanha condescendência
Assim, negiglencia a si mesma para não contrariar, para não ficar sozinha
Afinal, se sentir segura é essencial para caminhar
Onde já se viu andar no escuro? Não ter aonde e a quem se segurar?
Essa menina criada nesses excessos (ou ausências) não dá por si
Que a partir dos riscos, se abre as possibilidades
E cada uma é uma oportunidade
De conhecer a si mesma diante da imensidão que comporta a força da psique intuitiva
Entre a pobreza e a "loucura" (sem tom pejorativo), a fama que veio depois da morte, sem nunca ter vendido um quadro em vida, trazendo o impressionismo como apreensão sensorial da beleza, da angústia, da emergência que é sentir essa vida.
A maior loucura do Van Gogh... cortar a orelha, ter ele mesmo ido para um sanatório, as aventuras afora pela vida boêmia não glamourizada (seus contemporâneos tinham vidas tão miseráveis e decadentes quanto)... talvez, talvez nem chegasse perto da real loucura que seria viver que não fosse da Arte
Desejo que lembrem de quem eu sou quando não tenho utilidade Quando não tenho nada a oferecer